terça-feira, 25 de outubro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

"– Só sei que nós nos amamos muito…
– Porque você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
– Não, eu falei no passado!
– Curioso né? É a mesma conjugação.
– Que língua doida! Quer dizer que NÓS estamos condenados a amar para sempre?
(…)
– E não é o que acontece? Digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações…
– Pensar assim me assusta.
– Por que? Você acha isso ruim?
– É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais…
– Você usou o verbo ‘doer’ ou ‘doar’?
(Pausa)
– Pois é, também dá no mesmo…"

(Caio Abreu)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

crescendo, foi ganhando espaço [parte 3]

Foi, Guinho. Vovó disse que você tinha feições femininas! Titia já riu tanto da cara dela depois disso, viu?! Riu tanto que você nem acredita! Mas não teve problema não, ó... quando vovó soube que você era um menininho, ficou toda feliz! Toda, toda! Acho que até se você fosse um et, vovó ficaria feliz, Guinho. É tanto amor. Tanto amor...

Eu cheguei de viagem um dia antes de você nascer, sabia?! Menos de 24h! Cheguei aqui, na cidade, era mais de meia noite já... E ainda pedi pra papai ir na sua casa. Tava morta de cansada, mas queria ver o quanto você tinha crescido... Queria ver o quanto a barriga da sua mãe tinha crescido. E tava enorme, Guinho!! Enorme! Quase estourando!

No outro dia, acordei com seu bisa e sua bisa aqui em casa. Era tanta saudade... À tarde, mal deu tempo de respirar. Tinha que ajeitar tudo logo, que a hora de você chegar tava chegando. A gente foi pro hospital no finalzinho da tarde, Guinho. Seus pais já tavam lá, no quarto. Era tanta festa! Tanta expectativa! De repente, um monte de gente foi chegando. Eram seus avós, suas tias, sua madrinha, as amigas da sua mãe, as amigas da sua avó, todo mundo. Sabe esse "quadro" que hoje em dia tá preso na porta do seu quarto, com uma chuteirinha e as cores do Flamengo, Guinho? Era ele que tava na porta do quarto do hospital. Lindo, né?! Parece que todos os detalhes foram escolhidos a dedo, tudo foi pensado muito cuidadosamente, pro dia em que você chegasse. Pena que eu não pude participar disso...

Mas não tem problema. Porque a partir dali eu participei, sabe?! 1º de março de 2011. Foi nesse dia que o amor soube o que era amor, que o céu ficou muito mais lindo e papai do céu deu um sopro de vida na gente. Ele coxixou nos nossos ouvidos, com um hálito cheio de amor, dizendo bem assim: é ele quem vai tornar os dias de vocês muito mais bonitos.

E, olhe, era muito verdade, viu, Guinho? Sabia que eu, no dia em que você nasceu, subi os cinco andares do hospital de escada? É que tava demorando muito, tinha gente lá embaixo, não podia mais subir ninguém... aí Titia foi lá, falar com o pessoal, sabe?! Justamente nessa bendita hora, o celular toca, com alguém dizendo que você tava indo pro quarto. Eu ia aguentar ficar esperando o elevador chegar, Guinho? Ia? Você acha mesmo? Claro que não! Subi correndo os cinco andares. Cheguei lá em cima morta! Mas aí com um pedacinho vi você chegando. Aquela coisinha pequena, todo sujo ainda, um pacotinho. Lindo, Guinho. Lindo. Cara de joelho, não! Ai de quem disser que você tinha cara de joelho... Valeu a pena ter subido os 5 andares.

100, até, valeriam.

Nos primeiros dias você não fazia muita coisa, sabe?! Você era bebê... (porque, claro, agora, com 7 meses, você já é um homem). Dormia, comia e chorava. Mesmo assim, eu já era louca por você.
[...]

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

crescendo, foi ganhando espaço [parte 2]

Assim que terminou o jantar, a gente foi pra casa. Titia se aproveitou daquela mania dela de pedir logo a conta. Sabe, Guinho? É, vovó sempre reclama, mas nesse dia ela não reclamou muito. Acho que tava todo mundo meio cansado. Quando chegou em casa, Titia respirou aliviada. Tinha só que tomar banho e pular na cama, no sábado voltaria a pensar nisso tudo.

Grande engano, Guinho. A parte do banho, tudo bem. Só que assim que Titia saiu do banho, se deparou com sua mãe, aqui no quarto, se acabando de chorar, e sua vovó, ao lado dela, totalmente incrédula. Não precisava ninguém perguntar, tava estampado na cara das duas: sua mãe tinha resolvido contar ali mesmo, sem muitos arrodeios. Agora, Guinho, verdade seja dita: sua avó te ama desde o primeiro segundo que ela soube que você existia. Vovó falou algumas coisas a sua mamãe, sim, Guinho, falou sim. Mas em nenhum momento ela levantou a voz, nem nada do tipo. Deu um sermão, que ela merecia, disse o quanto as coisas iriam ser difíceis dali pra frente, o quanto tudo iria mudar, e começou a ser prática, muito prática: se seus pais iriam casar, onde iriam morar, quando iriam casar, como ia ser o casamento, essas coisas todas.

Mas... sabe, Guinho? Dava pra perceber nos olhos de vovó que, por ser vovó, ela tava feliz, muito feliz. E era o tempo todo falando do bebê, que o bebê tinha que ter uma estrutura, que ele precisava de muito amor, que aquilo não era brincadeira. O bebê. Você, Guinho. Você. (Deu certo, não deu? Você hoje tá transbordando de amor, que eu sei)

Titia ficou ali, do lado, de vez em quando falando alguma coisa, tentando acalmar. Pegou água com açúcar pra vovó, prendeu o cabelo dela, que era pra que o ar voltasse a circular. Tudo resolvido, Titia pensou, a pior parte passou. "Ia, você quer que seja o quê? Menino ou menina?", perguntei. Parece que a ficha ia caindo, aos poucos, sabe, Guinho? "E o nome, se for menina?"

A pior parte, infelizmente, não tinha passado. Menos de uma semana depois, vovó resolveu contar a bisa. Aos dois bisas, na verdade. Titia tava no quarto, eles na sala. Não houve grito, não houve nada. Mas seu bisa se levantou e saiu. Dali em diante ele parou de falar com sua mãe. Conservador, bem conservador.

E aqui vem a parte que Titia não deveria contar e que a história ficaria muito mais bonita se ela escondesse, Guinho. Mas, ó, na verdade, na verdade, foi assim: acabou que Titia também parou de falar com sua mãezinha. Não me pergunte porque, Guinho. Não era nada contra você não, sabe?! Foi vovó... Não que vovó tenha feito com que eu fizesse isso, pelo contrário: numa noite, antes de vovó viajar, ela começou a chorar pedindo que eu fizesse as pazes com sua mamãe. Que nós éramos as pessoas mais importantes da vida dela e que doia muito ver a gente assim, sem se falar. Titia veio aqui no quarto, disse tudo que pensava, tudo, tudo e fez as pazes com sua mãe. As pazes, assim, médio. Titia disse que iria tentar ficar bem com mamãe, mas que não sabia se iria conseguir. Tentei, Guinho. Tentei e consegui.

Quando Titia foi embora, você já tava bem grandinho. Grandinho, assim, dentro da barriga da sua mamãe. Você já não era mais um carocinho de feijão não, Guinho. Era não, viu?! Tava bem grande já! E, ah, Guinho! Titia foi com sua mamãe no dia da ultrassom pra saber o sexo. Sabia? E você sabia que na ultrassom anterior quem tinha ido era sua avó e ela disse que tinha certeza que era uma menina porque tinha "feições femininas"? Acredita, Guinho? Vovó disse que você tinha feições femininas! E isso, vendo uma ultrassom, Guinho! Essa sua avó, viu?! Essa sua avó...