quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

eu não escrevo

eu não escrevo para não sentir.

para não deixar os meus olhos pregados nos seus, sempre que eu vejo um raio de sol no teu sorriso, em qualquer dia nublado. não escrevo para não brincar com as serpentinas, para não fechar os olhos e rodar o salão, solta nos teus braços. não escrevo porque seria inútil, seria inimaginavelmente inútil dizer todas essas coisas sem graça, ficar te falando de deuses e astronautas, brincar com as nuvens e a lua e enrolar teu cabelo no meu dedo, tentando formar caracóis, com os raios de sol invadindo nosso quarto pelas frestas da janela.

seria inútil. irresistivelmente inútil.

não escrevo - e eu juro, não quero escrever - porque nem sempre o que eu digo é o que eu penso, e nem o que eu prometo é a verdade. não escrevo porque eu não sinto, mesmo - às vezes. e não escrevo porque eu gosto do barulho da chuva no telhado do vizinho. eu não escrevo para não correr o risco de te dizer todas essas coisas loucas, todo esse embaralhado, para não fazer desse jogo o nosso amor.

não escrevo - não te escrevo - mais pelo barulho do vento que o barulho das ondas. ou até mesmo o barulho da chuva. é que eu gosto da calmaria. gosto do cheiro da brisa. e gosto do cheiro dos livros, gosto dos seus livros, dos meus, dos nossos, da nossa história, e de tudo que eu ainda quero escrever.

eu não escrevo, por fim, porque nem sempre o que eu sinto é o que eu escrevo.