quinta-feira, 18 de junho de 2015

bula.


 que é preciso haver o cuidado antes de haver o carinho - e que o  carinho é o sinônimo do abraço. que os pés devem seguir juntos, em uma única direção, lado a lado - e que nunca nos faltem luzes para guiar a passagem. que tu me fales cada vez mais sobre os teus sonhos, planos, contos, e que nossos silêncios sejam, dia a dia, ainda mais significantes. que meu corpo seja tua casa - teu coração, meu aconchego. que nosso calendário seja ao contrário: os dias que chegarem, em plena sintonia. que meu ventre seja teu descanso, uma parte que ainda vem, nosso sonho em desalinho. que nossos sorrisos se completem, nossas lágrimas se subtraiam, nossa felicidade se multiplique - a cada dia, cada vez mais. que sejamos sempre passarinhos, construindo nossos sonhos aos quatro ventos. em qualquer lugar, há de haver um ninho - aqui ou no Japão. que os ventos e tempestades não nos derrubem, mas nos crie raízes - amor, cuidado, respeito. gratidão. que eu sempre possa te dizer o quanto sou grata. aos deuses, ao céu, ao universo. por nossos caminhos se cruzarem, nossas vidas se entrelaçarem, nossos mundos serem, tanto, e um tanto mais, tão iguais. que as linhas que nós escrevemos, mesmo que sejam tortas, continuem a construir nosso melhor roteiro.

que você saiba, cada dia mais: na próclise ou na ênclise, sem dúvida nenhuma: eu te amo, sempre, e um pouco mais.

terça-feira, 26 de maio de 2015

fica.

fica. como quem descansa em sintonia, como quem canta em uníssono, como quem saboreia o teu mais completo degustar. fica. embaralha os meus sentidos, desembrulha meus segredos, desnuda nossas vidas. mas fica. me coloca em letras raras, versos raros, vidas raras, o mundo em chamas, clarão do amanhecer. vem. e sê, tu, meu acordar. encosta em meu peito. respira. me deixa te costurar incertezas. me deixa te escancarar os teus cílios, te contar poeminhas, te falar, bai-xi-nho, coisinhas de amor. fica. sê, tu, o meu clarão e me deixas ser a tua flauta. me deixa te caminhar entre pêlos, me deixa te escrever com linhas tortas, me deixa te descobrir em pedacinhos. mas, mais uma vez, eu te peço: fica. sê, tu, meu sinônimo de amor.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

me escondi por dentre teus cabelos brancos, tua barba branca, teu sorriso torto, teu rosto em desalinho. em zigue-zague, como o emaranhado dos teus fios bagunçados, saí, correndo, destinada a nunca mais te ver chorar. me escondi entre teus cílios, teus pêlos, tua pele. como tatuagens feitas de sangue, quis escrever sobre teus poros, em letras garrafais, o amor que sinto por ti. observei atenta os teus números, teus laudos, tua vida, tua prece. sob as estrelas dos teus soluços, calculei a eternidade: era ali onde queria ficar. ao teu lado, por perto, por dentro, em teu peito, aninhada, como dias, meses, anos, décadas, séculos atrás. acariciei calendários, relógios, cronômetros, o tempo, na esperança de voltarmos vinte anos além. joguei baralhos, conquistei impérios, reabri tabuleiros, escupi dados, brinquei com a sorte, criei chamados, apenas te esperando voltar. arrumei a casa, o quarto, armários, escrevendo cartas, textos, teu ninho, costurando tua voz, ainda fraquinha, nos meus sonhos. tropecei nas tuas dores,  teus ais, teu chão em largas veias, com medo de, aí, você me ver chorar. preparei meu melhor prato, em tua mesa, um banquete, cheio de gratidão. te enviei sorrisos, suspiros, meus sopros, meus sonhos, uma prece, em coro, em vida, em breves sinais. fiz das tuas agulhas nossos bordados, das tuas quedas nossos sentidos, dos teus orgulhos nossos relentos. te pedi o impossível, almejei o improvável, discuti com deuses, santos, anjos e canibais. desarrumei o universo, desconsertei os nossos astros, devorei as linhas tortas, te escrevi em novas linhas: meus sonhos, em vida, serão sempre uma parte de ti.

segunda-feira, 23 de março de 2015

tem tempo que parece ter o cheirinho de Deus. cheiro de chuva, de terra molhada, em perfeita comunhão. cheirinho de Natal, de roupa de bebê, paz que alimenta. tem tempo em que tudo parece caber no silêncio que ocupa o espaço de um abraço. cheirinho de água parada, de canto de passarinho. tem tempo em que a gente não percebe, não escuta, mas fala pela boca de um anjo. e ele ali, logo do lado, fica escutando, sorrindo, brincando de fazer sóis em dias azuis. tem tempo em que o tempo não importa, e o mesmo ano é dia inteiro. o relógio não corre, os segundos se cristalizam e o que era noite vira dia, num gole em contramão.

 tem tempo em que tudo é harmonia.

é o nosso tempo
em desalinho
com o dia a dia
costurando
[em de-ta-lhe-zi-nhos]
 nosso melhor sorriso.

terça-feira, 17 de março de 2015

menina,

se apaixona por alguém que te faça cócegas - não só cócegas no estômago. se apaixona por quem que te beije - os pés e o ouvido. por alguém que seja teu chão, quando o chão faltar, mas que também te deixe sem ele, quando for necessário. se apaixona por quem te faça andar na corda bamba - de aço. por quem te obrigue a ser teu melhor - e querendo. se apaixona por quem te faça o café da manha, e você, o jantar. se apaixona por quem te complete, da forma mais absurda que for, mas que te encante, mesmo sem querer. se apaixona por quem tu consiga aceitar os erros - e por quem consiga aceitar os teus também. não se apaixona por quem te tira o fôlego. somente isso, não faz a cama. se apaixona, menina, por alguém com quem tu tenha química, que a física explique, que tua cabeça se encaixe perfeitamente no teu ombro. se apaixona por quem não reclame das tuas manias, por quem te acha graça, por quem, por ti, faz graça. se apaixona por alguém com quem teus dias sejam mais leves, por alguém com quem tu queira ter filhos, por alguém com quem tu consiga imaginar netos, bisnetos, tataranetos, talvez. mas se apaixona, também, por alguém com quem não importe o dia de amanhã - se, de repente, tudo acabar, ainda assim, terá valido a pena. se apaixona por quem tu não precise fazer juras, porque elas não serão necessárias. se apaixona por quem tu ame o cheiro, por quem te aqueça no abraço, por quem enxugue tuas lágrimas. se apaixona por quem te queira bem - acima de tudo, e que te queira o bem. se apaixona, menina, por alguém em quem tu possas confiar - a tua vida, teus segredos, todos os teus medos. se apaixona por quem tu não precises mostrar que és uma mulher, e que, ainda assim, ele te deseje mais que a todas as outras. se apaixona por quem, acima de tudo, seja teu amigo, teu companheiro, cúmplice de todas as ocasiões.

se apaixona, menina. se deixa apaixonar.

mas, o principal: se apaixona somente por aquele que, após uma briga, te procure, antes do sol se pôr. não te ponhas nunca no travesseiro sem poder dizer 'boa noite, meu amor'.