terça-feira, 21 de agosto de 2012

Uma prece


"Que tenha paz. Que tenha paz. Que tenha paz. 
Ah, é claro, que tenha paz e acesso à alegria mais sincera também. Amém"
(Ana Jácomo)


Que sua alegria acenda sempre a minha alegria. Que nossos passos continuem se cruzando, tropeçando, nessa dança louca que a gente insiste em inventar os passos. Que Deus escreva nossas linhas, tortas, longas, do jeito que for, mas com lápis de tinta, lápis colorido, que tenha cor. Que sejam azuis, todos os nossos dias, e que sejam cinzas nossas manhãs para que a gente possa dormir até mais tarde, escutando o barulho dos pingos da chuva saltitando os telhados vizinhos. E que os vizinhos nos perdoem pelos nossos gritos, loucos, roucos, de madrugada.

Que a vida seja longa, a semana seja breve, e as viagens sejam inesquecíveis. Que sempre haja espaço para uma carta, o tamborilar dos dedos, uma gargalhada, um "bom dia". Que os dias sejam extremamente bons. E que haja os ruins, para que eu possa sentir tua mão me segurando, me apertando, para que eu possa dizer no teu ouvido, baixinho, depois da tempestade, que eu gosto muito do teu cheiro.

Muito.

Que você compreenda meus ataques de loucura, que eu saiba entender teus dias ruins, que nossa ética seja sempre nossa, que não existam leis, que a gente quebre todas as regras, todos os traumas. Que você entre aqui, agora, sem pedir licença. Que você continue enfeitando os meus dias, do mesmo jeito que fazia logo que chegou: cantado, brilhando, enviando sorrisos, beijos e abraços. Aliás: abraço, não, que é coisa de amigo.

Que a gente se lembre de se abraçar no meio do caos. Quando a ventania soprar forte, quando o telhado cair e as folhas ficarem amarelas.

Amarelo, não: azul.

Que nosso sorriso seja sempre doce e a gente continue sendo a nossa paz; que nosso barco não desembarque, que a gente enfrente a correnteza; que você continue me inspirando meus desejos mais sinceros e eu tenha a serenidade necessária para te deixar cumprir tuas pretensões mais grandiosas. Que transforme dias em retratos, histórias em canções, vidas em roteiros.

Que eu consiga te trazer o sorriso mais sincero, a verdade mais bonita: que te traga vida. Com um pingo forte no "i".

Que à noite, quando for dormir, se eu não estiver por perto, escute a minha prece, pedindo para que Deus te ilumine cada vez mais.
Amém.


12.05.28

domingo, 12 de agosto de 2012

Vem, senta aqui.


- Vem, senta aqui.

(Deixa eu te contar como o céu fica azul, em cima desse telhado, quando você tá aqui. Te falar de sonetos, de amor. Te falar, (bai-xi-nho), de como o mundo parece girar sempre no sentido exato quando insiste em te colocar na minha frente em uma hora qualquer, assim, no meio da noite, da madrugada. Vou te contar, também, minha tese sobre o destino, sobre nós dois. Os astros, o acaso, os deuses. Ou, se você quiser, não falo nada disso. Mas te conto, te mostro e te explico como você sempre aparece na hora exata, aqui. Bem aqui. Vem mais pra perto. Deixa eu sentir teu cheiro. Eu sei, não importa. Não importa quantas vezes você mudou de perfume, ou com quantos cheiros o teu cheiro se parece - eu reconheço. Não importa o quanto a gente se perca, a gente finja, o quanto a gente fuja: a gente se encontra. Se conhece. Deixa eu, mais uma vez, tentar te explicar o que eu não consigo entender. Me dá uma folha, vem cá, vê aqui esse cronograma, esse organograma, essa árvore genética. Me explica. Me explica, por favor. Me diz o que é isso que faz com que eu continue sentindo esse carinho absurdo por você. O que é isso que faz com que eu queira te pegar, te colocar no colo e apagar todas as tuas dores. O que é? Me fala. O que é, que de tão confuso, é tão exato? Me explica, me conta, me beija. Me beija. Me abraça. Isso, não fala nada. Mas mexe no meu cabelo, desenha com teus dedos em minhas pernas, fala da tua barba, chama minha atenção. Descobre o meu corpo, fala dos meus sinais, apalpa minhas cicatrizes. Eu não sei quem, de nós dois, tem mais. E não vou te pedir desculpas. Desculpa, não vou. Foi o acaso, foi o destino, já disse, qualquer coisa assim. Mas, por favor, reencontra aquele soneto. Repete, mais uma vez, fala alto, grita, deixa o coração falar mais alto. Amanhã a gente esquece. Me fala de Chico, de Oswaldo. Vai, canta uma canção bonita falando da vida em ré maior. Canta! Vem cá! Aceita. Por favor, aceita. Toma, pega aqui essa caixinha. Eu nunca vou deixar de te querer bem. Te-quero-bem-te-quero-muito-bem. Você é o amigo de infância, é a história mal contada, a história mal vivida. Olha, vou escrever um livro. Sobre nós dois).


- Fica mais um pouco.












11.06.15