quinta-feira, 19 de junho de 2014

Se eu tivesse mais cinco minutos

Se eu tivesse mais cinco minutos, juro, não iria reclamar da tua barba mal feita. Ou dos teus defeitos mais banais. Desligaria o celular, te convidaria pra dançar. Ouviria cada palavra que por acaso não fosse dita. Destrancaria teus silêncios, engoliria tua luz, faria festa em teus sentidos. Se tivesse só mais cinco minutos, talvez, fosse eu quem falasse sem parar. Te diria todo o não-dito. E enxugaria minhas lágrimas com teu sorriso mal-feito. Te convidaria para um brinde à meia noite. Te daria lentilhas. Folha de louro. Uva passa. E, contigo, faria simpatias. Te confessaria que tropecei - mas me segurei em teus lençóis. E me nego a levantar da cama antes do sol se pôr. Não se pôs. Não em mim. Te levaria lá pra fora, pra te mostrar o arco-íris. Murmuraria clichês, falando baixinho no teu ouvido. Contaria o meu amor em forma de canção. De poema. De prosa. Mas só pra ti. Exclusivamente, pra ti. Não gritaria nossa felicidade. Muito menos teus silêncios. Respeitaria os teus suspiros. E teus monossílabos. Te convidaria para, depois, ver o sol nascer. E te convidaria para tantas coisas e tantos cantos e tantos ais. Que. Não teria ponto final. Te confessaria relicários. Em um cordão, carregaria nossos segredos. Para onde quer que eu fosse. E te levaria. Entre meridianos e luas cheias. Se eu tivesse mais cinco minutos, sopraria dos teus cílios qualquer que fosse o mal. E não deixaria que, entre nós, fizesse-se nenhum outro nó. Com meu dedo meio torto, faria labirintos em tua pele. E, depois, te convidaria para, comigo, atravessá-los. Seguraria a tua mão - e não te deixaria cair.

Se eu tivesse, somente, mais cinco minutos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário