domingo, 9 de novembro de 2014

Casamento

[Já era quase dez horas. Eu não conseguia entender como as pessoas conseguiam falar em borboletas no estômago em um momento como aquele. Na minha, haviam dinossauros. Dragões. Hipopótomos em surtos epilépticos. O momento, enfim, havia chegado. Eu. Casando. Com você. Difícil de acreditar.

Dei uma última conferida nos últimos detalhes. Demorei um pouco, ainda, para escolher qual o batom que eu iria usar. Pensei em um vermelho, forte, para deixar registrado em todas as fotos o tamanho do meu sorriso ao teu lado, mas lembrei que você não é dado a cores chamativas. Fiquei com o nude. Simples. E bonito. Como a gente.

As batidas na porta anunciavam que a hora havia chegado. Faltava pouco menos de dez minutos. Nosso combinado era que não nos atrasássemos. Não nos deixaríamos adiar mais ainda a nossa felicidade. Até ali, 12 anos já haviam se passado. De encontros e reencontros. Nossos mundos em paralelo, fazendo curvas arrastadas, até que finalmente nos encontrássemos - de uma vez e para sempre.

Escutei as batidas, atenta. Sabia que era a hora, mas não podia deixar de fazer uma última coisa. Pedi para que esperassem. Do outro lado, estavam minha mãe, minha irmã, e duas ou três amigas. Aceitaram de prontidão, dizendo que tudo bem, era normal a noiva se atrasar. Mas eu juro, não era essa minha intenção. Eu não iria gastar nem um minuto a mais que o planejado. Só precisava fazer uma última coisa: uma oração.

Pedi a Deus e a todos os astros do universo que iluminassem nossos caminhos. Que nos deixasse fazer a vida - e cada dia - mais leve. Pedi que me desse a serenidade necessária para acalentar os teus dias com sorrisos. Com os meus melhores sorrisos. Que entre nós nunca faltasse uma única coisa: a cumplicidade de velhos amigos apaixonados. Que nos desse, também, a sabedoria necessária para que educássemos os filhos que, um dia, a vida nos daria de presente. Que não nos faltasse amor. Nunca. Em um único dia. E que não nos faltassem abraços. Nos bons e maus momentos.

Agradeci ainda por Ele ter colocado em minha vida não os homens dos meus sonhos, mas aquele que me tornou a realidade mais pura: você. E, antes que me alongasse mais que o necessário, ouvi novamente as batidas na porta. Faltavam apenas cinco minutos. Chegara a hora. E eu não iria me atrasar.

Desci as escadas e, descendo, não consegui enxergar batentes. Não via outra coisa senão a estrada que havíamos trilhado até ali. Me perguntava, desesperadamente, o que estava fazendo. Eu Casando. Com você.

Ao chegar à entrada da igreja, porém, e, olhando pro final do corredor, ver você: não tive outra certeza: era exatamente aquilo que eu queria para o resto da vida. Borboletas no estômago. Você.

(...)
A vida prega peças. (...) A vida é quem dita as regras.]

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